A Estrada
Do nada, comecei a lembrar dessa música e parei pra prestar atenção na letra. Corri pra pegar na internet e transcrever sem erros, pois eu PRECISAVA vir postar.
Como meus pais dizem: "Você vê as pingas que eu tomo, mas não vê os tombos que eu levo". Assim é a vida... As pessoas te observam e te julgam em tudo: se está com uma roupa nova, se pintou o cabelo, se trocou de carro, se mudou de casa... Mas não sabem o quanto você batalhou para conquistar tudo isso. Não sabem quantas noites em claro você precisou passar trabalhando ou quantos dias não conseguiu realizar uma atividade simples. Com o lado mais negativo, também é assim, infelizmente... Se engordou, se adoeceu, se perdeu o emprego, se precisou se desfazer de algum bem. Igualmente, ninguém sabe o que houve para você ter chegado ali.
Trazendo agora para a minha vivência com o Matheus e comigo mesma: poucas são as pessoas que se interessam de verdade, com o intuito de entender ou ajudar. Muitas são as pessoas querendo xeretar ou opinar sobre coisas que sequer entendem e muito menos, vivem. "Ah, mas fulano conhece alguém que tem um filho autista!" Então esse conhecido de fulano vai entender o que eu vivo ou digo, mas fulano, não. Fulano não vive essa realidade e nem demonstra interesse por isso. Uma pessoa pode te perguntar, por exemplo, como foi o seu dia. Mas dá pra identificar o motivo e o sentimento que gerou essa pergunta, entendem o que quero dizer? As vezes a pergunta vem disfarçada com outras palavras e outros assuntos, mas a finalidade é saber algo mais direto e a pessoa não quer dar tão na cara esse suposto interesse, pois ele não é desinteressado, ele tem uma finalidade e posso afirmar que não é a de ajudar. Ah, quantos lobos em pele de cordeiro existem por aí, não?
Ninguém sabe a nossa caminhada para chegarmos com o Matheus no ponto em que está. E digo isso tanto do ponto de vista positivo, do quanto ele adquiriu em linguagem, em aprendizado, por exemplo, mas também do ponto de vista mais negativo, do quanto ele se tornou uma criança explosiva e agressiva, intolerável às frustrações mínimas. Ninguém sabe o quanto eu andei, corri, sofri, chorei, cuidei, amei para chegar ao nível de stress que cheguei e que me desencadeou esse transtorno de ansiedade terrível, que luto diariamente para combater. Por isso, volto à frase que comecei o post: "Você vê as pingas que eu bebo, mas não vê os tombos que eu levo". Pode ser difícil oferecer ajuda, reconheço isso. Mas pode ser ainda mais difícil você caminhar ou se levantar de uma queda, sem ajuda. Pense nisso.
Eu luto diariamente para que meu filho aprenda, cresça não só em tamanho físico, mas também no tamanho espiritual. Luto para que ele possa ter uma vida mais plena, mais feliz, livre de rótulos, de olhares tortos, de julgamentos, de estar preso dentro dele mesmo, pois eu entendo disso. Como mãe, recebo tudo isso e com a ansiedade, passei a viver presa dentro de mim e isso não é nada legal. A liberdade é boa mas é difícil e tem suas responsabilidades. O Matheus é uma criança pequena num corpo grande e não sei se essa condição será assim para sempre (a idade mental não acompanhou a idade física). Já pensei muito nisso, se ele conseguiria levar uma vida "normal" quando adulto ou se vai depender de mim e do papai para o resto da vida. Mas não penso mais nisso. Tudo vai ser de acordo com o que ele puder ser e vai estar tudo certo. Se ele puder se desenvolver e ter sua própria vida, com os pais e o irmão por perto, será ótimo! Mas se ele for uma eterna criança em um corpo de adulto, será ótimo também! No momento, eu só quero que ele seja feliz, que ele se restabeleça na sua forma mais tranquila e que o equilíbrio da família retorne, pois com tanta coisa acontecendo, até o irmão se sente afetado, e não teria como ser diferente.
Só nosso Pai, nosso Deus, sabe das nossas vidas e só Ele pode nos amparar e nos guiar. Cabe a mim, fazer o meu melhor diariamente, sendo esse melhor somente levantar da cama e tirar o pijama ou conseguir sair de casa e realizar as atividades que eu me propus a fazer. Sem pressa, um passo de cada vez, senão não adianta e a frustração fica maior. O que eu sei é que tento fazer o meu melhor todos os dias e não vou parar nunca. Mesmo naquele dia difícil em que a vontade é jogar tudo pro alto e desistir. É nesse dia em que Deus me mostra Sua força, faz sentir Sua presença e me faz continuar.