Ansiedade
Me inspirei, mais uma vez, no que postei ontem no Instagram para vir escrever aqui. Não é especificamente sobre o autismo, mas é um assunto importante e tem relação também.
A ansiedade, ou transtorno de ansiedade, não é como as pessoas pensam, como está descrito no início. "Estou ansioso para as férias." ou "Estou ansioso para saber se fui bem naquela prova da escola." Esse tipo de ansiedade é normal e todos nós temos. Mas o transtorno de ansiedade é uma doença, é algo patológico e que impede a pessoa de ter uma vida normal. São pensamentos intrusivos que chegam sem aviso prévio, qualquer coisa pode ser um gatilho para que ela se aproxime e te atrapalhe. Pode ser um evento traumático ou emocional, como presenciar algum acidente, perda de alguma pessoa querida, como pode ter alguma origem mais física, por exemplo bem simples, eu ter caído e quebrado o braço e adquirir um trauma e não querer mais passar pelo local onde eu me machuquei e se esse local fizer parte do meu caminho habitual, isso se tornará um problema.
Nem sempre temos o controle da nossa mente. Para fazer um comparativo bem ilustrativo, é como os famosos "anjinho" e "diabinho" que já ouvimos falar. O anjinho nos aconselha coisas boas e o diabinho nos diz o contrário. Quando somos acometidos de alguma doença emocional ou psicológica, é bem complicado conseguirmos discernir o que é produto da nossa mente, exclusivamente, do que é real. A mente cria situações desconfortáveis, que não aconteceram e podem nem acontecer, te fazendo ter sintomas físicos como tremedeira, suor excessivo, diarreia, dor de cabeça, enjoo, entre outros. Então, você fica com aquele pensamento único e deixa de fazer coisas por conta dessa ansiedade. Não consegue sair com aquele amigo que já tinha marcado, não consegue ir trabalhar, não consegue levar o filho para a escola e acha que se fechando dentro de casa e de si, nada de ruim vai acontecer. Esses sintomas podem fazer parte também, de quadros depressivos, de stress e de síndrome do pânico. Uma coisa pode levar a outra, mas não necessariamente.
A mãe de uma criança de desenvolvimento atípico, passa por esse ciclo de ansiedade sempre. Sem generalizar, algumas conseguem controlar bem e outras sofrem mais, que é o meu caso. Infelizmente nisso tudo, por se tratar de uma doença "invisível" e impalpável, nem todo mundo entende. As pessoas ainda tendem a pensar que uma doença, para existir, precisa ser visível para todo mundo, como um gesso na perna ou no braço; assim como o autismo, que por não ter uma característica física, ainda é visto com maus olhos e tida como birra ou falta de educação. Se a criança tem uma crise nervosa, veladamente a mãe fez alguma coisa errada, principalmente se for em um dia em que essa mãe está mais cansada ou preocupada. Assim como existia a crença antiga de que o autismo aparecia quando a mãe era fria ou ausente. Me atrevo a dizer que a mãe de uma criança autista precisa de mais cuidados que o próprio filho(a). A mãe passa por um esgotamento mental incrível e precisa ter um tempo pra ela e nem sempre isso é possível. A mãe de uma criança autista precisa de acolhimento e não de julgamento. A mãe de uma criança autista precisa de apoio e não de mais culpa. A mãe de uma criança autista precisa de empatia e não de palavras duras, supostamente servindo de incentivo.
Os próprios autistas sofrem de ansiedade também, de diferentes formas. A grande maioria, precisa ser avisada se houver alguma mudança na rotina a que estão acostumados, pois são bem rígidos e inflexíveis. Se houver uma viagem programada, por exemplo, a criança precisa ser comunicada com antecedência, que a família vai saber qual. A ansiedade não vai deixar de aparecer, mas vai poder ser trabalhada com calma, até por meio de histórias sociais, com imagens para ajudar. Já outras crianças, como o Matheus, se souber com muita antecedência, vai ficar ansioso, repetindo ou se negando, afetando muito o comportamento dele, o deixando ainda mais agitado e/ou irritado. Todas as crianças ficam ansiosas com qualquer evento, seja um passeio em família ou uma prova mais difícil na escola. Repito que isso é normal, mas nos autistas, essa ansiedade vem de forma um pouco mais acentuada.
O dia pode estar lindo do lado de fora, mas dentro da mente ansiosa, está tudo horrível. O que podemos fazer para ajudar?
Dizer para pensar positivo não vai ajudar, pois a pessoa simplesmente não consegue. Dizer para mudar o foco do pensamento, também não. Dizer de forma mais ríspida que a pessoa precisa reagir e que está inventando coisas, menos ainda. Tudo isso vai fazer com que a pessoa se sinta ainda pior, porque ela sabe disso tudo, mas simplesmente não consegue pensar diferente naquele momento. Não é o tempo todo que isso acontece, há momentos e dias bons! Mas quando vem esses momentos de crise, o melhor a se fazer é ouvir a pessoa. Oferecer os ouvidos para ela desabafar, os ombros para ela chorar e um abraço apertado para confortar. Faça a pessoa saber que você está ao lado dela, que ela não está sozinha e que esse instante ruim, vai passar. Se ofereça para ajudar no que ela precisar, desde acompanha-la a um médico a fazer seu almoço, por exemplo.
A pessoa ansiosa precisa se sentir amparada, sentir que não está caminhando sozinha. A pessoa ansiosa precisa, se possível, de acompanhamento psicológico para poder se reestruturar e talvez, de acompanhamento psiquiátrico, se necessário. Todo apoio que ela puder ter, é de extrema importância. E esse é o meu depoimento real.