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Terapia. Pra quem, mesmo?

Eu disse que tentaria escrever de novo durante a semana e estou conseguindo cumprir! Ebaaaa! :)


Postei no Instagram esses dias, a imagem que vou colocar aqui também, mas o texto será diferente. Então vamos lá!

Começo falando o que aprendi nesses anos: muito se fala que a única terapia indicada para o tratamento dos autistas, é a TCC (Terapia Cognitivo Comportamental) ou a mais específica, a ABA (Análise do Comportamento Aplicada), pois é a que é indicada e praticada nos Estados Unidos, Europa e no mundo. Mas eu digo que a terapia indicada no tratamento dos autistas e de QUALQUER PESSOA, é aquela que tem efeito, aquela que funciona, que faz sentido e que a pessoa se adapta. Simples assim.

Como assim, Denise? Você enlouqueceu? Não, minha gente! E vou resumir um pouquinho das vivências que tivemos ao longo dos anos e explicar por que eu disse isso. Pois bem: o Matheus começou a passar com psico e fono aos 3 anos de idade e a psico era Psicanalista (prevejo pessoas afins da área Comportamental, se arrepiando agora kkkkk) e para ambas, ele parecia autista à primeira vista, porém ao se trabalhar com ele, essa opinião se desfazia. Eu sempre disse que não me importava com um nome, mas em saber como lidar com ele e fazer com que ele se desenvolvesse e fosse feliz. Permaneço com essa opinião, mas agora com a ressalva de que um nome é importante SIM, para podermos direcionar as terapias da maneira mais adequada e tendo um diagnóstico, saber o que temos ou não direito e poder explicar a quem se interessar, o que ele "tem".


Ele mudou de fono após um período, mas permaneceu com a mesma psico até quase 9 anos de idade, quando mudamos em julho de 2016, para o ABA, por demanda da escola, que estava precisando de orientação sobre como proceder com o material de estudo dele, bem como o aprendizado e o comportamento. Então recomeçamos num mundo novo e totalmente diferente e estranho pra todos nós. O modelo terapêutico era totalmente oposto ao que sempre tivemos: antes ele era atendido no consultório, 2X por semana, comigo e com o papai junto da sala, um dia de cada um, até que ele pôde ficar sozinho com a terapeuta, que ele amava. Nós aprendemos muito e fomos muito orientados durante todos os anos em que passamos com ela, pois de certa forma, ela acabou sendo nossa terapeuta também, né? Com a mudança, eu passei a ser a aplicadora dos programas do ABA, em casa. Tínhamos a opção de "contratar" uma pessoa para aplicar, mas seria financeiramente inviável e eu também me dispus a fazer esse papel, para estar mais perto do meu filho e poder acompanhar esse processo, aprender as técnicas e tudo mais. Inicialmente, EU comparecia ao consultório semanalmente, para mostrar os resultados dos programas aplicados, relatar facilidades e dificuldades e receber novas demandas para aplicar. Depois, precisamos mudar esse atendimento para quinzenal, por questões financeiras mais uma vez. De vez em quando, eu levava o Matheus comigo, mais para ela observar como EU fazia a aplicação do conteúdo e para poder fazer correções, se necessário. Mas isso aconteceu poucas vezes, bem poucas mesmo. Permanecemos dessa forma até fevereiro deste ano e por enquanto, estamos sem terapeuta.


Vocês devem estar se perguntando o motivo de termos interrompido o tratamento e estarmos sem nenhuma supervisão psicológica pra ele. Explico agora: tudo o que fizemos, deu muito resultado: ele ganhou muito na fala (apesar de ainda estar muito longe do esperado), ele aprendeu muitas coisas cotidianas e escolares e até aprendeu a experimentar comidas novas, que ele sempre resistiu. Porém, a parte do COMPORTAMENTO se desestruturou totalmente. Pois é, minha gente! A terapia que é comportamental, fez o comportamento dele se alterar completamente!! O Matheus sempre foi um menino muito carinhoso, sempre gostou de abraço, de tocar na pele das pessoas, de colo, de olhar nos olhos (nem sempre) e ele passou a ser agressivo ao extremo. Antes, quando ele queria demonstrar contrariedade, irritação, raiva mesmo, ele beliscava, mas não chegava a machucar nem de longe. Com o início do ABA, as orientações que recebíamos, era de que se ele gritasse, batesse ou o que fosse, era pra "ignorar", para mudar o foco dele para outra coisa. Nessa linha também há o reforço positivo, onde ele faz uma tarefa e é recompensado com algo que ele gosta (ex: fez a lição direitinho e vai poder jogar videogame por 5 minutos). Mas se ele ficasse agitado por alguma coisa e se batesse ou batesse em alguém, ninguém poderia acalma-lo, somente mudar o foco dele para outra coisa, senão aquilo seria um reforço positivo para uma atitude negativa que ele teve.


Então, minha humilde opinião e explicação é simples: essas orientações tiveram efeito contrário com ele! Quando ele machucava alguém, não era pra falar que não podia bater, não podia falar que bater machuca nem nada. Falando, reforçaria esse comportamento e ele iria continuar batendo e sem falar nada, esse comportamento cessaria. Mas isso não aconteceu e ao contrário do que foi falado, só aumentou... O efeito foi contrário, de tanto ninguém falar nada pra ele, ele foi entendendo que era a forma certa dele expressar a raiva dele e foi ficando algum vazio de explicação dentro dele, com ele crescendo a cada dia e sem entender o que sentia... Tem vezes que ele bate e em seguida, chora compulsivamente e pede desculpas, demonstrando saber que não fez algo certo e que está arrependido. Isso é dolorido demais.


Então, com esse relato, quis demonstrar que não existe terapia certa nem terapia errada. Existe a terapia em que a pessoa vai se adaptar melhor e que vai fazer sentido pra ela e no caso de uma criança, de fazer sentido para a família, para a escola e para todos que conviverem com ela. Não estou, DE JEITO NENHUM, dizendo que o ABA ou a TCC não servem para tratar os autistas! Só estou dizendo que para o Matheus e para nós, não funcionou. E não é porque é o mais indicado que precisa dar certo. Ninguém melhor do que quem convive de perto com esse autista, para saber o que vai dar certo para ele. Não tem nada de errado em perceber isso e mudar. Errado é ver que algo não funciona e não mudar.

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