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Eletrônicos: permitir ou proibir?

Quem conhece o Matheus, sabe que desde bem pequenininho, ele sempre gostou muito de eletrônicos: desde aprender a desligar o notebook sozinho, só de observar eu e o papai fazermos isso, até dominar o uso dele e do celular e tablet. Ele se interessou cedo pelas letras do alfabeto, compramos um joguinho com letras móveis de madeira e ele aprendeu a escrever as primeiras palavras: Matheus, Doki e Jesus. <3 Mas nada superava o interesse dele pelos eletrônicos, tanto que ele aprendeu a desligar o notebook só de observar eu e o papai desligando. E não desligar de apertar o botão ou fechar o notebook, mas de usar o mouse no botão iniciar e desligar MESMO! Quando tivemos o primeiro celular touchscreen, foi ele quem desbloqueou a tela pra mim, porque a caipira aqui, ficava tocando o dedo na tela ao invés de deslizar. Ele tinha 3 (TRÊS) anos.


Quando passamos ele por uma avaliação psicológica, a profissional que o observou, sugeriu um CD-ROM chamado COELHO SABIDO, que tinha programas para diversas faixas etárias e poderia ser interessante para ele, já que tinha interesse pelas letras e unindo tudo, poderia ajudar na formação da fala dele. E desde então, ele se apaixonou pelo programinha e pelo notebook, usava de forma independente. Aí ele aprendeu a acessar o youtube. Ele aprendeu a usar o celular e uns anos depois, o tablet. E desde então, isso virou quase uma obsessão para ele e ele usava em 100% do tempo. Eu e meu marido nunca paramos pra observar esse interesse restrito e nunca ligamos com o autismo (até porque, na época, nós não tínhamos o menor conhecimento do que era o autismo propriamente dito) e confesso: achávamos bom ele se distrair com aquilo, pois nós poderíamos ter mais tempo de conversar ou assistir televisão, por exemplo, sem estar o tempo todo vendo programação infantil.


A primeira psicóloga que ele passou, dos 3 aos 8 anos, comparava o celular a chupeta: a criança chora e para ela parar, alguém dá a chupeta e ela se satisfaz por algum tempo. Com o celular era assim: ele usava para suprir a falta de alguém brincando fisicamente com ele, tudo isso pensando do lado inconsciente dele. E claro que passei a me culpar muito e achar que a falta de interesse dele em interagir com outras crianças e pessoas, a fala não ter aparecido, era culpa minha, por eu não dar a devida atenção a ele e permitir o uso de eletrônicos o tempo todo. Essa culpa sempre vai existir, em toda mãe, por mais absurdo que possa ser o motivo. As mães sempre acham que falharam, que poderiam ter feito diferente e ficam com um remorso eterno, que vai e volta no ritmo da Ragatanga. Hahaha!


A psicóloga atual, que estamos há 1 ano e 4 meses, diz que o uso de eletrônicos, restringe os interesses e possibilidades da criança em brincar e interagir, e reduz MUITO, a fala. Como se sabe, os autistas demonstram interesses super restritos e tendem a falar só sobre aquele assunto (os que são verbais) e podem "ganhar" ecolalias e/ou estereotipias vocais, de ficar só repetindo o que ouve nos vídeos que gosta, de ficar repetindo sempre a mesma parte de um filme ou livro e assim, a fala fica bem menos efetiva. É isso o que acontece com o Matheus. Eu não posso dizer que ele é verbal, mas também não é não verbal. Ele consegue se comunicar, as pessoas conseguem entender o que ele quer, mas não há uma troca de diálogo, ele não consegue ainda, falar uma frase completa e estruturada. Vou dar um exemplo de fala que temos sempre na saída da escola:


"Matheus, foi tudo bem na escola hoje?"

"Escola hoje."

"O que você fez?"

"Lanche."

(apesar de eu arrumar o lanche dele, sempre pergunto o que ele comeu)

"E o que você comeu de lanche?"

"Suco."

"Que mais?"

"Maçã."

"Que mais?"

"Torrada. Muito bem!"


Esse é um exemplo do diálogo que temos com ele. Mas considerando que ele começou realmente a falar com 4 anos, essa possibilidade de resposta dele, é um grande avanço! Mas ele tem potencial para mais e nós podemos auxiliar sempre, e é o que fazemos diariamente. É fácil? Não. É impossível? Jamais! Não dá pra imaginar como será o futuro dele, mas no que depender de mim, será o mais feliz e brilhante possível! O aprendizado deles acontece de forma diferente das crianças ditas típicas, mas ele é possível sim! Como sempre digo: cada ser é único, com suas próprias características, humores e particularidades. O espetro possui MUITAS variações, muitos níveis ou graus, e cada um deve ter os seus limites respeitados. Mas se não testarmos, nunca saberemos qual o limite, não é mesmo? Eu achava que seria IMPOSSÍVEL o Matheus ficar sem usar nenhum tipo de aparelho eletrônico, mas eu estava totalmente enganada. De alguns meses para cá, somente permitimos que ele use em ocasiões em que precisamos que ele fique calmo, como para cortar o cabelo, por exemplo. Mas dentro de casa, ele não usa mais e quando acontece dele pegar ou de algum de nós, pamonhas, ficarmos com dó e permitirmos o uso, ele se transforma. O comportamento muda, ele fica mais irritado depois, chegando as vezes a ficar agressivo. Então tenho cada dia mais convicção de que aparelhos eletrônicos para o Matheus, realmente só em momentos realmente necessários.


Não estou aqui, condenando nem julgando as crianças que usam aparelhos eletrônicos, de forma alguma. Só quero dizer que é possível eles se "desintoxicarem", é possível criar outros tipos de atividades ou brincadeiras, basta só descobrir o que vai mais chamar a atenção deles e aproveitar as potencialidades deles pra trabalhar enquanto brincam. Parece que tô falando grego, né? Mas não tô não, isso é resultado de esforço, treino e muita, mas MUITA paciência.


Tudo é possível quando se tem amor. E isso, tenho de sobra para ajudar meu pequeno príncipe.




















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