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Lidando com um Autista e sua Família

Fiquei pensando no próximo assunto e cá estou rs

Falando de modo geral, quando nos deparamos com qualquer criança ou pessoa com qualquer tipo de deficiência, a tendência é ficamos "cheios de dedos", ou "pisando em ovos" no trato com essas pessoas, certo? Mas estou falando de deficiências "visíveis", como uma pessoa numa cadeira de rodas, Síndrome de Down, paralisia cerebral e afins. Mas como lidar com aquela criança, aparentemente birrenta, sem educação e que não te responde? Dar bronca, pensar mal da mãe? E quando se descobre que essa criança é autista e por isso tem determinados comportamentos?


Nem toda deficiência é visível ou visual e por isso eu digo sempre que antes de julgar ou brigar, devemos nos colocar no lugar daquela pessoa e entender que sempre há motivo para qualquer tipo de comportamento ou fala. Essas famílias precisam de muita empatia e compreensão, pois lidar com uma criança autista não é tarefa fácil, por mais que ela não tenha comprometimento intelectual. E digo que nenhuma família vai chegar abertamente num desconhecido, tentando antecipar algum provável episódio nervoso, e sair espalhando que o a criança é autista, como se fosse o maior motivo de orgulho do mundo, como a gente costuma fazer quando o filho tira nota 10 na escola. Mas o autismo e o autista não podem ser escondidos do mundo! Quanto mais informação, melhor para todos.


Vou falar aqui, de mim e do meu filho, mas não posso generalizar, afinal, cada ser é único, cada ser tem suas particularidades, suas características e cada autismo tem um jeito. A maioria deles, não gosta de ser tocado, não suportam um abraço, mas o Matheus ama dar e receber abraços, fazer carinho e precisa ser na pele, nada de roupa por cima! Sempre foi assim desde pequeno e continua muito carinhoso e amoroso.


O Matheus é uma criança de riso fácil e gostoso, adora carinho, olha nos olhos (nem sempre, mas olha), mas prefere o isolamento do que conviver mais de perto com outras pessoas, principalmente crianças. Tem momentos de irritação, se recusa a fazer atividades solicitadas na escola, em casa, joga tudo e se joga no chão, grita, belisca... Depois pede desculpa e faz carinho. Às vezes, tem muitas variações de humor num dia só. Às vezes está super concentrado nas atividades, mas em seguida, dispersa ou se recusa a fazer algo que tinha acabado de fazer. E é nesses altos e baixos que vivemos cada dia. Nenhum dia é igual ao outro e nunca podemos criar muitas expectativas de como o dia vai ser, mas tentamos manter uma rotina fixa pra ele se habituar e não se sentir perdido ou confuso. Autistas gostam e precisam dessa rotina.


A conversa com ele, é igual a qualquer outra criança. Ele entende tudo e mais um pouco rsrs Ele não tem a fala totalmente estruturada, as frases faltam elementos, principalmente os verbos, mas é possível entender tudo o que ele fala e ele entende tudo o que os outros falam, desde que não usem nenhuma linguagem muito avançada pra idade dele. Ele precisa se sentir acolhido, pois se sentindo acuado, maior a probabilidade dele "atacar" a pessoa, seja gritando, seja agredindo fisicamente, como beliscando, por exemplo. E tudo precisa ser dito de forma literal, sem gírias, figuras de expressão, piadas, trocadilhos, nada. Linguagem direta é essencial. Todos os autistas são literais. Se você disser a expressão "Nem que a vaca tussa", ele vai formar a imagem de uma vaca tossindo mesmo e vai ficar confuso e sem entender o que você quis dizer.


Lidando com a família: havendo a suspeita do autismo e depois a confirmação desse diagnóstico, a família tende a se esconder e se isolar. Não vai falar desse diagnóstico com ninguém, seja na família, amigos ou escola. Quando nós fizemos a avaliação no Matheus, com 3 anos, e veio essa sugestão, eu e meu marido nos entreolhamos e ficamos sem entender, pois ainda tínhamos a imagem do autista que fica se balançando sozinho num canto, e o Matheus sempre foi ativo e alegre! Como eu disse no post anterior, várias características fazem parte do espectro, mas a maioria das pessoas desconhece! Nós levamos algum tempo para processar esse diagnóstico e buscar ajuda profissional e fico pensando se não tivéssemos procurado antes, se ele não poderia ter se desenvolvido melhor e antes, ou mesmo se tivéssemos trocado de profissionais antes (isso fica pra outro post rs). Mas lidamos com o presente e pensamos que estamos fazendo o nosso melhor por ele e que sempre fizemos o que estava ao nosso alcance na época.


Eu não tenho tabu nem frescura para falar do assunto, passei dessa fase faz tempo rsrs Eu quero mais é que as pessoas conheçam o meu filho como ele é, sem esconder nenhum detalhe dele e sem esconder o mundo dele! Ele existe e faz parte do mundo, então as duas partes precisam se conhecer e conviver! Quanto mais informação a todos, melhor para todos, já disse isso antes. O autismo é invisível aos olhos, mas totalmente sentido pelo coração. Pra quem conhece o espectro, até conseguimos notar um olhar diferente e suspeitar de algumas pessoas, mas não sou ninguém para apontar o dedo pra quem quer que for. Se alguém me procurar pra perguntar, pedir dica ou qualquer coisa, estou aqui de coração e mente abertos e quero ajudar sempre no que puder, mas ajuda profissional jamais pode ser descartada.


Futuro? Não pensamos nisso agora. Primeiro quero que meu filho continue sendo uma criança feliz e que continue aprendendo e se desenvolvendo. Claro que como toda mãe, quero o melhor pra ele e espero que ele possa ser independente, estudar e ter uma profissão para exercer, ter a própria família, e ele tem grandes chances de conseguir! Mas se não for possível, quero que ele saiba que eu estarei sempre ao lado dele, apoiando no que for preciso e jamais vou passar a mão na cabeça por qualquer coisa. Ele não é doente e nem coitadinho. Apenas tem uma forma diferente de estar no mundo que eu respeito e quero que todos respeitem.

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